Embaladas por mais uma safra (2019/20) de colheitas robustas, as exportações brasileiras de grãos deverão continuar aquecidas neste segundo semestre e, no mínimo, se aproximar de patamares recordes em 2020. Analistas lembram que a concorrência com os Estados Unidos, cuja produção da temporada 2020/21 já começou a entrar no mercado, tende a ser mais tende a ser mais acirrada nos próximos meses, mas afirmam que a demanda está firme, mesmo em meio à pandemia, e que o câmbio continua a garantir boa rentabilidade para os embarques do país.
Depois de alcançarem sucessivos picos mensais no primeiro semestre, as exportações de soja, carro-chefe do agronegócio no Brasil, já começaram a perder força por questões sazonais, mas mesmo assim caminham para alcançar, com relativo conforto, cerca de 80 milhões de toneladas no acumulado do ano, como admitem a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
Na semana passada, a Abiove elevou sua projeção para os embarques de soja em grão do país em 2020 para 79,5 milhões de toneladas, ou US$ 26,6 bilhões. O volume estimado é 7% superior ao do ano passado, e a receita é 2% maior. São números ainda distantes dos recordes de 2018 (83,6 milhões de toneladas, ou US$ 33,2 bilhões), quando eclodiu a guerra comercial entre EUA e China, mas seriam as segundas maiores marcas da história. Brasil e Estados Unidos são os maiores exportadores globais de soja, enquanto a China lidera com folga as importações.
A Anec ainda prevê 78 milhões de toneladas para este ano, mas vê espaço para que as vendas externas de soja cheguem a 80 milhões. No primeiro semestre, já mostrou levantamento da entidade, os embarques superaram a barreira de 60 milhões de toneladas.
Mas há no mercado quem trace cenários mais otimistas. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), por exemplo, projeta as exportações brasileiras da oleaginosa colhida na safra 2019/20 em 84 milhões de toneladas, diante de uma expressiva demanda chinesa. Em caso de um empurrão extra vindo de um eventual recrudescimento das disputas comerciais Washington e Pequim, que aparentemente estão um pouco mais apaziguadas, Ernani Carvalho, sócio da consultoria Bateleur, acredita que o volume poderá até beirar 85 milhões de toneladas.
“Há espaço para exportarmos mais soja no segundo semestre mesmo considerando o estoque de passagem e a demanda interna”, afirma Carvalho, que realça que o câmbio continua a estimular a cadeia exportadora brasileira. “Em novembro teremos eleições nos EUA e, a depender do resultado, a situação será mais ou menos favorável para que os americanos cumpram o acordo de primeira fase firmado com os chineses”, diz.
Firmado no início do ano, o acordo prevê a aquisição de US$ 32 milhões neste primeiro ano de vigência – montante que, ao que tudo indica, dificilmente será alcançado, até porque é superior ao patamar de antes das tensões. “Enquanto Donald Trump se mantiver no poder, o Brasil se beneficia, pois as negociações com os chineses permanecerão instáveis. Agora, se ele perder, poderá haver um retorno forte das compras de soja americana pela China”, prevê Carvalho.
Já Guilherme Bellotti, gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, não vê um risco de esgarçamento na relação sino-americana, até porque as aquisições de soja dos EUA pelos chineses, têm se repetindo semana após semana, e projeta as exportações brasileiras de soja em 76 milhões de toneladas neste ano.
Ao mesmo tempo em que os embarques da soja colhida nos primeiros meses do ano já perde fôlego depois de um ritmo frenético de escoamento sobretudo entre março e maio, os de milho, alimentados pela produção da chamada “safrinha”, começam a decolar. De acordo com dados da Conab, o volume deverá chegar a 34,5 milhões de toneladas no ano, abaixo do recorde de 41,1 milhões de 2019 mas segundo lugar no pódio histórico.
O Itaú BBA trabalha com uma expectativa de 34 milhões de toneladas, e a Bateleur, otimista, fala em mais de 40 milhões. Na avaliação de Guilherme Bellotti, a produção brasileira de milho deverá alcançar 98 milhões de toneladas (primeira s segunda safra) e os estoques de passagem para 2020/21 ficarão apertados, daí porque o banco está mais cauteloso.
Diferentemente do que acontece com a soja, a China é irrelevante para as exportações brasileiras de milho, cujo mercado global é mais pulverizado – e não há protocolos firmados que tornem viáveis os embarques do cereal transgênicos produzido no país. Mas, no longo prazo, essa realidade deverá mudar, já que a demanda do país asiático para a produção de rações já dá sinais de recuperação depois da fase mais grave da peste suína africana e a tendência é de aumento do consumo doméstico de carnes.
De acordo com dados do USDA, a China, um dos maiores países produtores de milho do mundo, deverá colher 260 milhões de toneladas do cereal na safra 2020/21, mesmo patamar de 2019/20. Mas suas importações deverão subir de 4,5 milhões de toneladas para 7 milhões, para complementar, junto com estoques, uma demanda total da ordem de 271 milhões de toneladas. No quadro da soja a realidade é bem diferente: o país deve produzir 17,5 milhões de toneladas e importar 96 milhões para suprir uma demanda de quase 112 milhões de toneladas.
FONTE: SOPESP